Sul: um altar reconstruído

Relato sobre a noite de 20 de abril de 2003, no Sítio Canaã – Retiro de Páscoa dos jovens da Igreja Presbiteriana de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.*


Noite de domingo. É Páscoa. Está frio lá fora. Está quente aqui dentro. Os músicos estão atentos. A congregação mostra em seu rosto grande júbilo por estar unida pela adoração. O louvor começa em grande estilo, sendo ministrado pelo servo de Deus. O retiro de Páscoa está sendo uma benção até então. Seria a última noite naquele sítio com nome de terra prometida [lê-se Canaã]. Quem esquecerá dessa noite em que vimos a mão de Deus se mover sobre os irmãos presentes?
O tema de nosso retiro é “Crescendo com Compromisso”. Durante os dois primeiros dias falamos sobre a importância do crescimento em qualidade, o qual começa com um compromisso pessoal com Cristo, tendo seu fechamento no compromisso com seu corpo, a Igreja. No terceiro dia, estávamos tratando sobre o crescimento em quantidade, ou seja, a importância da Missão Evangelística da Igreja na granda comissão (ide por todo mundo e pregai o evangelho!).
A comunhão é intensa. São cem jovens de todo o Rio Grande do Sul e de algumas cidades de Santa Catarina. As pregações são tocantes e desfiadoras. Os seminários nos ensinam de uma forma lógica nossas responsabilidades como Cristãos. Os momentos de louvor são alegres e chorosos, pois o Espírito de Deus faz a sua obra. Não há como não perceber: Deus está fazendo a sua obra.
Louvamos, cantamos, pulamos, dançamos, gritamos... e choramos. Choramos nossas vidas no altar de Deus! O pregador, comovido, pega o microfone. Vai falar sobre o tema da noite: Compromisso com o “ide”. Entretanto, ele se sente dirigido para falar sobre reconstrução de altares destruídos. Durante o sermão, altares estão sendo reconstruídos. Ele termina sua pregação pedindo ao grupo de louvor que toque uma música e, logo, passa o microfone para mim.
Muitos estão lá na frente, em espírito de adoração. Estão em volta de mim, do pregador e do ministro de música. Outros, espalhados pelo templo, estão ajoelhados, abraçados, clamando... Não sei o que dizer. Apenas recomendo que todos entreguem tudo o que têm nas mãos de Deus, pois é isso que incessantemente cantamos ao seguir a letra do cântico: “Tudo que tenho é teu”. Cantamos essa frase por aproximadamente dez minutos.
Um jovem de minha igreja, em prantos, me abraça e diz que nunca havia sentido nada igual ao que ele está sentindo. Conduzo-o em uma oração de entrega definitiva de sua vida a Deus. A música continua, e outra jovem, que recém tivera seu casamento destruído, vem ao meu encontro e me abraça, também em prantos. Oramos, então, pela sua cura. Dirijo-me a outro jovem, esse recém-convertido, e oramos pelos seus pais que ainda não conhecem a Cristo.
Todos ainda cantam: “tudo que tenho é teu”.
O culto termina com a música em segundo plano, pois Deus estava a reerguer altares. Seria a última noite naquele sítio aconchegante com nome de terra prometida. Quem esquecerá dessa noite em que vimos a mão de Deus se movendo sobre os presentes? Ninguém esquecerá da renovação de seu compromisso com Deus. Ninguém esquecerá da noite em que teve seu altar reconstruído.
O Sul é um altar reconstruído. Essa noite é só mais uma evidência. Amanhã teremos mais palavra, mais louvor, mais comunhão; porém só quero aproveitar este momento... que me parece eterno.
Noite de domingo. É Páscoa. Está frio lá fora. Está quente aqui dentro....

* Publicado na Revista Mocidade Presbiteriana, n° 18 – out./nov./dez. 2003.

Identidade Cristã

Acho que já superei essa fase infantil – mas necessária – do Cristianismo de resumir a vida Cristã em uma listinha do que é errado. Deixar de fazer isso ou aquilo não é a essência do que é ser um discípulo de Cristo. O que eu quero dizer é que já consegui compreender que observar um código de condutas não me torna um Cristão. Claro que todo crente precisa saber o que deve e o que não deve fazer, mesmo que no início de sua vida cristã não entenda o porquê.
Em primeiro lugar, à medida que vamos testando nossa fé, à medida que o nosso relacionamento com Deus vai se tornando mais maduro, percebemos que essa lista de "nãos" é conseqüência natural de um compromisso sério com Deus, e não, pelo contrário, o que nos leva a ter um compromisso com Ele. Abandonamos certas práticas porque começamos a entender a vontade do Senhor para as nossas vidas, e não porque temos medo de sermos punidos por elas. Dessa maneira, a conclusão a qual cheguei , por critério eliminativo, é que o Cristianismo não é um código de condutas.
Segundo, outro problema de definir cristianismo por condutas é a influênica da cultura local. O que alguns cristãos consideram como pecados "hediondos" não são nem considerados pecado por cristãos de outras culturas, e vice-versa. Pecado é o que a bíblia diz que é pecado – o resto são usos-e-costumes com roupagem de Cristianismo.
O discurso que o Arcebispo da Igreja Episcopal de Canteburry (Inglaterra), Rowan Willians, fez à Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas, realizada em Porto Alegre, em 2006, está entre o que de mais profundo vi/ouvi sobre Cristianismo na minha vida. O assunto era Identidade Cristã e Pluralidade Religiosa. Selecionei algumas de suas frases sobre identidade cristã e vou deixar que elas falem por si mesmas- tentar explicá-las poderia estragar o brilhantismo desse Pastor:

- "Nossas vidas devem viver o testemunho da fidelidade de Deus às suas promessas".
- "Explicar a palavra 'Cristão' significa explicar o que é ser um povo que existe porque Deus prometeu estar com eles e a quem Deus ordenou que demonstrassem quem Ele é".
- "É a nossa relação com Deus."
- "A identidade Cristã é pertencer a um lugar que Jesus definiu para nós. Vivendo neste lugar nós iremos compartilhar esta identidade, carregar seu nome e estar nas mesmas relações que Ele tem com Deus e com o mundo".
- "Ao estar ao lado de Cristo, é possível viver em tal intimidade com Deus que nenhum medo ou falha possam quebrar o compromisso que Deus tem conosoco... Daqui você pode ver o que precisa ser visto para estar em paz com Deus e com a criação de Deus; e também precisa estar em paz com você mesmo, ciente de sua carência por misericórdia e re-criação".
-"É uma perspectiva que depende de estar onde Jesus está, debaixo de sua autoridade, compartilhando o 'fôlego' de sua vida, vendo o que ele vê – Deus como Abba, Pai, um Deus completamente comprometido com as pessoas em cujas vidas ele busca reproduzir Sua vida".
-"Tente reconstruir esta identidade de princípios, ideiais, ou o que seja, e você acabará em algo muito diferente do que as escrituras dizem do que é estar 'em Cristo'".
-"Nossa ênfase não deve estar em possuir um sistema no qual todas as questões possam ser respondidas, mas precisamente em testemunhar sobre o lugar e a identidade nos quais temos sido chamados a viver. Nós devemos mostrar o que vemos, reproduzir a vida de Deus como ela tem nos sido entregue pelo Ungido"
"Identifique-se! E nós fazemos isso em ações de graça e vivendo fielmente onde Deus, em Jesus, nos trouxe para estar, para que o mundo possa ver qual a profundidade e o custo da própria fidelidade de Deus para com o mundo que ele criou".

De fato, a identidade Cristã está em ver as coisas da perspectiva de Cristo. Por isso, é essencial estar ao Seu lado, pois assim vamos enxergar o que Ele enxerga e vamos demonstrar ao mundo quem Deus é, Sua vida e Seu Compromisso para com a humanidade.
Nisso está o grande amor do Pai: o custo da fidelidade de Deus para com sua criação foi a vida de Seu próprio filho.

A essência do Cristianismo

O que diferencia o Cristianismo de outras religiões? O que torna o Cristão realmente um Cristão? Qual é, afinal, a essência do Cristianismo?
Fruto do meu contato com outra cultura durante os dois anos em que vivi no exterior e do bom relacionamento com irmãos de outras igrejas, congregações e denominações cristãs (cada uma com seus costumes, convicções e doutrinas), minha mente é levada a indagar sobre essas questões.
Como resposta a minha inquietação, busquei a Deus, estudei a palavra e pesquisei sobre o assunto. A minha conclusão está no texto abaixo, que eu escrevi em maio de 2006 e revisei para republicá-lo neste blog.
O Cristianismo não pode ser resumido em uma lista de condutas: faça isto ou aquilo; muito menos em uma lista negativa: não faça isto, não faça aquilo. Muitas religiões fazem o bem e todas elas apresentam uma série de regras a serem seguidas. Todas as religiões apresentam uma lista do que não se deve fazer. Isso é bom, mas não é o essencial. Explico, agora, a razão.
Se analisarmos, dentre as muitas diferenças e semelhanças com outras religiões, apenas o Cristianismo nos apresenta uma palavra chave: RECONCILIAÇÃO. O homem pecou, foi destituído da comunhão plena com Deus, e agora carece de alguém que o reaproxime de seu criador. Logo, reconciliação com Deus é a essência do Cristianismo.
O Cristianismo tem como livro fundamental a Bíblia. Mas, no meio de tantas histórias, poemas, cânticos, profecias e passagens, qual a mensagem central das Escrituras? Pense na seguinte descrição linear:
1. Deus criou o mundo e o homem.
2. O homem pecou, e o pecado o afastou de Deus.
3. Deus escolheu uma nação, da qual viria aquele que iria cumprir a missão de nos RECONCILIAR com Ele - o Messias, o Cristo.
4. Nasce um Israelita chamado Jesus.
5. Jesus, o Cristo, morre pelos nossos pecados, vence a morte e ressuscita ao terceiro dia.
Dessa maneira, ao morrer por nossos pecados, Jesus Cristo se torna RECONCILIADOR da criatura decaída com o seu Criador, pois "sem derramamento de sangue não há remissão de pecados". A Bíblia é clara ao dizer que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Pecado, no Grego do Novo Testamento, pode também ser traduzido como “errar o alvo”. O alvo, o objetivo que Deus tinha quando criou o mundo era viver em harmonia com a excelência da criação, em perfeita comunhão com o homem. Porém, o homem caiu em desobediência.
No Velho Testamento, os judeus matavam animais para receber perdão pelos seus pecados - o salário do pecado é a morte, por isso havia a necessidade do derramamento de sangue, e os animais eram mortos no lugar do homem que comtera os pecados. Uma vez por ano, no entanto, uma ovelho imaculada, toda branca, pura, sem nenhuma mancha, deveria ser sacrificada pelo Sumo Sacerdote para que todo o povo fosse redimido de seus pecados. Deus se fez homem através da nação Israelita, e foi morto pelos de seu próprio povo, sem haver nele culpa ou dolo, uma ovelha sem manchas, sem pecado, e que derramou seu sangue pelos pecados da humanidade.
Jesus Cristo, assim, se tornou reconciliador universal entre Deus e os homens – pois derramou o seu sangue para “remissão de pecados”. Reconciliação com o Criador: essa é mensagem central do Cristianismo, pois apenas em Cristo há remissão de pecados. Muitas religiões fazem e pregam coisas boas, mas nenhuma aponta para a necessidade de reconciliação com o Criador. Somente o sacrifício de Jesus, o Nazareno, pode nos trazer perdão e conseqüente harmonia com Deus. Romanos. 5:6-10 diz:
"Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer. Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos RECONCILIADOS COM DEUS PELA MORTE DE SEU FILHO, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a RECONCILIAÇÃO".
Evangelho é o mesmo que boas novas, ou boas notícias. No entanto, a boa notícia é precedida por uma má notícia: “Você é pecador e precisa se reconciliar com o seu Criador”. Logo após a má-notícia, as boas novas: “Jesus Cristo derramou seu sangue pelos teus pecados e você só precisa se arrepender e crer que Ele é o filho de Deus”.
I João 2:1 > “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”.
Atos 10:43 > “Todo aquele que nele crê [em Jesus], recebe remissão de pecados”.
I Timóteo 2:5 > “Porquanto há um só Deus e um só MEDIADOR entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se entregou por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos”.
João 3:16 > "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
Se religião significa "ligar com Deus", a diferença entre o Cristianismo e outras religiões é simples: é á única e verdadeira religião, pois só ela aponta para Jesus Cristo, que é o único capaz de reconciliar a humanidade com seu criador. Jesus disse : "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim".
O que torna o Cristão um verdadeiro Cristão é o fato de ele ter reconhecido seu estado pecaminoso, ter se arrependido, crido que Jesus é o filho de Deus, sendo assim, verdadeiramente reconciliado com seu Criador.
E, por último, a essência do Cristianismo é viver e pregar a reconciliação do homem com Deus.