Eis que vos farei chover pão dos céus

Os Israelitas foram salvos da escravidão. O primeiro versículo do capítulo 16 de Êxodo relata que os filhos de Israel estavam no deserto após terem saído da terra do Egito. Até ali, o povo de Deus havia testemunhado uma grande libertação através de providência divina e muitos milagres, desde as pragas que afligiram os egípcios, a abertura do mar e a transformação de águas amargas em águas doces. Mesmo assim, o versículo seguinte diz que “toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto”.
A causa da murmuração dos israelitas era uma: alimentação, que se desdobrava em duas, sobrevivência garantida e fartura. “Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor, na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão.“
A libertação de Israel da escravidão no Egito é o símbolo de libertação do Cristão da escravidão no pecado. E não menos nesta narrativa, temos uma ilustração das dificuldades pelas quais passamos no início de nossa caminhada com Cristo, e de como podemos reagir a elas.
Em primeiro lugar, Israel teve de aprender que a vida e a sobrevivência não dependiam mais de depositar suas forças nos sistemas estabelecidos deste mundo, e que agora estavam debaixo da total dependência de Deus. Essa foi a resposta do Senhor no verso cinco: “Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não”.
O Senhor abria aos olhos do seu povo para a realidade de dependência, e os convidava a uma nova vida sob essa perspectiva. Não se trata de uma nova realidade, mas somente de percebê-la. Talvez (ou muito provavelmente), os israelitas confiavam em sua própria força e na boa vontade de Faraó para os alimentar no Egito. No entanto, até mesmo lá eles já estavam vivendo pela provisão divina, “Porque [o Senhor] faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5:45).
Eis aqui a chamada da nova vida em Cristo: em tudo somos dependentes dele. Como Paulo nos afirma: “O que tens tu que não tenhas recebido?”. (I Co 4:7).
Em segundo lugar, saber que dependemos da providência de Deus é uma prova de que fomos realmente libertos. Como Paulo, exultante, escreve em Filipense 4:11-12: “Porque já aprendi a contentar-me em toda e qualquer situação. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade”.
Agora os israelitas teriam de aprender que nada podiam fazer pela própria força para suprir suas necessidades e garantir sua sobrevivência. No deserto não há terra fértil. No deserto não há água. No deserto não há pomares. O deserto é lugar de sequidão e pouca vida. Mas é no deserto que todo nosso orgulho e auto-suficiência são quebrados. Se há alguma resquício de governo próprio, ali ele rende e se ajoelha ao Senhor de tudo. Ali aprendemos que somos ricos quando somos pobres, que somos fortes quando somos fracos, e aprendemos a exclamar confiantemente como Paulo: “tudo posso naquele que me fortalece”.
Logo após passar pelo meio do mar em terra seca, Moisés e o povo haviam entoado: “Com a tua beneficiência guiaste o povo que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade”.  O deserto era o lugar de experimentar essa liberdade, dependência e direção.
Jesus Cristo é o nosso alimento diário.  Ele disse: “eu sou o pão da vida” (João 6). Como é rica a nossa confiança em Cristo. O mesmo Deus que tirou com braço forte o seu povo do jugo de Faraó, arranca-nos com graça das garras do pecado. E ele nos dá sustento a cada dia. “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?”.
Cristo nos lembra que somos peregrinos neste mundo, assim como os israelitas o eram no deserto. Ainda que não haja alimento físico, nele temos vida eterna. Ainda que não haja vestes físicas, nele somos revestidos do novo homem. E isso basta para a eternidade. Mas Jesus nos conforta e continua: “vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas essas coisas; buscai, pois, o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.
O Senhor nos libertou da pior consequência do jugo do pecado, qual seja, a separação eterna de Deus. E ele mesmo, em Cristo Jesus, haverá de prover cada uma de nossas necessidades de nossa jornada terrena.
Em várias culturas, pão é símbolo de vida, de subsistência e de fartura. Em Cristo nós temos vida; o pão é o seu corpo repartido por nós no madeiro. Ele é a palavra;  nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. E ele é a nossa fartura, que veio para nos dar vida, e vida em abundância.
No deserto, Deus fez chover pão dos céus para alimentar os israelitas.
Para nós, Jesus é o pão que desceu do céu para nos dar vida. 

Evangelizar é um mendigo mostrando ao outro onde encontrar pão.

“Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu. Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.  Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede”.
(João 6:31-35)