BUSQUEM O SHALOM DA CIDADE

*

"E estas são as palavras da carta que Jeremias, o profeta, enviou de Jerusalém, aos que restaram dos anciãos do cativeiro, como também aos sacerdotes, e aos profetas, e a todo o povo que Nabucodonosor havia deportado de Jerusalém para Babilônia:... procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz".  Jeremias 29:1 e 7


Temos um compromisso com nossa cidade. Esse compromisso de buscar o bem da comunidade em que vivemos é nos dado por Deus. Portanto, não é opcional. Precisamos admitir que pouco se fala nas igrejas brasileiras sobre justiça social, e temos uma visão ainda limitada sobre o tema. Uma rápida pesquisa em Inglês me fez perceber como nossos irmãos de língua Inglesa levam mais a sério esse chamamento. O que fazer, então, para avançarmos nesse ministério, nesse serviço?
É bom que se leia o capítulo 29 de Jeremias tendo em mente que o profeta estava falando para a geração arrancada de Israel e levada para um país estranho, pagão, idólatra e conhecido por sua grande imoralidade. Qualquer semelhança com a sua e a minha vida não é mera coincidência. A história de Israel é uma figura da vida de todo crente. Nós somos peregrinos em terra estranha, terra de homens que odeiam a Deus. 
Vivemos os últimos dias, aqueles nos quais Paulo alertou a Timóteo que seriam trabalhosos devida à existência de homens avarentos, soberbos e profanos; dos quais Jesus também falou que o amor se esfriaria devido a iniquidade multiplicada. São estes dias que somos chamados a remir. Buscar o shalom de nossa cidade é parte desse chamado. 
A palavra shalom, usada por Jeremias, é uma palavra que não pode ser literalmente traduzida em nosso idioma. Usualmente interpretada como paz, pode ser também entendida como bem, ou bem-estar. Tim Keller, no seu livro Generous Justice, falando de uma perspectiva mais existencial e pessoal, explica shalom como o estado de paz produzido pela consciência que está tranquila com seus próprios princípios. O termo é rico e passa também a ideia de completude, saúde, paz e prosperidade. Aí nós percebemos como é grande e ampla a missão de trazer shalom à nossa cidade. 
Não, não estamos falando apenas de evangelizar. Estamos falando de trabalhar para a nossa cidade. Serviços que abençoam todas as áreas da vida da comunidade: social, estética, psíquica e, não menos, espiritual. A Igreja deve caminhar carregando a cruz em uma das mãos e uma toalha na outra. Isso significa dizer que devemos andar por aí proclamando o evangelho, mas também olhando para as necessidades físicas e econômico-sociais das pessoas. Cuidar desses aspectos exteriores nos abre a porta para tratar o interior, sermos ouvidos e pregar o evangelho da salvação.  
O jovem Spurgeon, ao chegar em Londres pela primeira vez, ficou chocado com a pobreza e o abandono das crianças. Quando fundou o Metropolitan Tabernacle, sua congregação já ficava aberta das 7h às 23h para prestar programas aos necessitados. Ele fundou e administrou 65 instituições sociais, entre orfanatos, casas para mães solteiras e outros serviços de cuidados pessoais. Por sua vez, John Wesley, que dizia “a minha paróquia é o mundo!”, também afirmou que a igreja que não fazia diferença na sociedade não tinha o direito de existir. A maioria das nossas igrejas está ciente do ministério da cruz, mas se omite no usar da toalha. 
Buscar o shalom da cidade é investir nela e promover justiça social. É amparar o órfão e a viúva em suas necessidades, vivendo o que Tiago chama de “religião pura e verdadeira”. Tim Keller, na mesma obra citada acima, nos recorda do quarteto vulnerável de Zacarias 7:10 - “Isto é o que o Senhor diz: administre a justiça, mostre misericórdia e compaixão um para com o outro. Nào oprima a viúva ou o órfão, o pobre e o imigrante”. 
Ação Social não é coisa de ONGs ou de espíritas. Fazer o bem a todos é obrigação do crente. Leia os profetas e veja como Jeová abomina a injustiça social. “O que farei para herdar a vida eterna?”, perguntou o intérprete da lei; ao que Jesus contou a parábola do bom samaritano e respondeu: “vai tu e faze o mesmo”. Corra seus olhos nessa parábola e aprenda que acudir o necessitado faz parte do estilo de vida daquele que é realmente salvo. 
Omitir-se no exercício da misericórdia é pecado. A Igreja que não investe em obras sociais peca por omissão. E com isso perde, pois como Jeremias fala, na paz da cidade vós tereis paz. 
Tem crente que acha que cristão não deveria se envolver com política. Mas a verdade é que precisamos orar por mentes cristãs, verdadeiramente piedosas e convertidas, dentro de nosso Congresso, de nossas prefeituras, nos conselhos tutelares. Temos de formar a mentalidade de nossos jovens abrindo escolas, creches e faculdades. Atender a saúde, cuidar da vizinhança e manter a limpeza são também maneiras de trazer shalom sobre nossa cidade.
Continue lendo o capítulo 29 de Jeremias e verás que grandes bênçãos decorrem de   atendermos a voz de Deus.  Dos versos 10 ao 14 podemos ler: 

"Porque assim diz o SENHOR: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar. Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o SENHOR".

O salmista nos diz que 70 são os anos de nossa vida em plenitude. Mais uma vez, somos apenas peregrinos em um cativeiro que não é a nossa terra. Nesta terra vamos edificar nossas casas e habitá-las; plantar jardins e comer do seu fruto; buscar shalom de nossa cidade, e na sua paz encontrar a nossa paz. E vejamos, assim, cumprida em nós a boa palavra do Senhor.

___________________________________________________________
*Na foto, visão noturna do Mercado Público - área central de Porto Alegre.