Fé: o paladar do espírito

“O seu fruto é doce ao meu paladar”. Cantares 2:3

Fé, nas Escrituras, é tratada sob o emblema de todos os sentidos. É visão: “Olhe para mim e serás salvo”.  É audição: “Ouça, e tua alma viverá”. É olfato: “Todas as tuas vestes cheiram a mirra, aloés e cássia”;  “Suave é o aroma dos teus unguentos, como o unguento derramado é o teu nome”. Fé é tato espiritual. Por esta fé a mulher veio por de trás e tocou as vestiduras de Cristo, e por esta fé nós manuseamos as coisas da boa palavra da vida. Fé é, igualmente, o paladar do espírito. “Quão doces são tuas palavras ao meu paladar! Sim, mais doce que mel em meus lábios”. “Se não comerdes da minha carne,” diz Cristo, “e beber do meu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. 
Este “paladar” é a fé em uma de suas mais altas operações. Uma das primeiras performances da fé é a “audição”. Nós ouvimos a voz de Deus, não com os ouvidos externos somente, mas com nossos ouvidos internos; nós a ouvimos como Palavra de Deus, e acreditamos nela; essa é a "audição" da fé. Então nossa mente olha para a verdade como nos é apresentada; pode-se dizer que nós entendemos, nós percebemos seu significado; essa é a “visão”. Próximo, nós encontramos sua preciosidade; nós começamos a admirá-la, e descobrimos sua fragrância; essa é a fé em seu “olfato”. Então, nos apropriamos das misericórdias que são preparadas para nós em Cristo; esta é a fé em seu “tato”. Assim segue a alegria, a paz, o prazer e a comunhão; que são fé em seu “paladar”. Qualquer um desses atos de fé traz salvação. Ouvir a voz de Cristo como a certa voz de Deus na alma irá nos salvar; mas o que dá verdadeiro gozo no aspecto da fé em Cristo é o gosto santo produzido pela compreensão interna e espiritual da doçura e preciosidade de sua Palavra, feita para ser alimento de nossas almas . É então que sentamos “debaixo da sombra com grande prazer”, e encontramos seu doce fruto em nosso paladar. 

Devocional Matutina de 25 de agosto, por Charles Spurgeon.

Evolução: O Mito Americano Sobre a Origem da Vida

Se quiseres fazer um estudo antropológico a respeito de uma nação, um povo, ou uma tribo, além de se inserir no dia-a-dia e aprender a língua dessas pessoas, comece aprendendo sobre como elas acreditam que o ser humano veio à existência. Não se trata puramente de ciência biológica. A crença de um povo sobre a origem do homem revela seus valores morais e éticos mais profundos e enraizados. 
A Bíblia diz que “Deus colocou a eternidade no coração do homem”. Assim, o ser humano quer não apenas conhecer o que está além desta vida visível, ou para onde irá, mas também é incansável na busca da eternidade anterior a ele, ou seja, de onde veio. Por isso, todo povo tem sua própria narrativa acerca de como tudo começou.  O tema é tão importante que a ciência tomou para si  a responsabilidade de dar um veredito final sobre o assunto. O que pouco se fala, no entanto, é que a origem da vida tem implicações maiores do que a biologia possa alcançar. A crença sobre o princípio do homem  está intimamente ligada à formação de valores de um povo, bem como à designação do papel de cada indivíduo na sociedade; ela torna-se a base sustentadora de uma cultura. Essa é a razão pela qual escolas, igrejas, universidades, ou quaisquer outras instituições que tem papel formador do indivíduo colocam essa matéria como algo a ser tratado, debatido e ensinado.
Ronaldo Lidório*, que passou oito anos em Gana, vivendo em meio aos Konkombas, conta o mito criacional dessa tribo. Nessa estória, o céu era feito de carne e ficava muito próximo à terra. Conta a história konkomba que o primeiro homem recebeu a instrução do criador, Uwumbor,  para  que   cortasse carne do céu todos os dias, mas não mais do  que sua família iria precisar para um dia de subsistência. No entanto, um dia, ele retirou mais do que o necessário e houve sobras que apodreceram nos dias seguintes. Uwumbor, então, ficou muito desapontado e, como punição, afastou o céu a uma altura que o homem não mais pudesse alcançá-lo e impossibilitou que provisão de alimento fosse retirada dali. Fica fácil, então, compreender porque a ganância é considerada um dos erros mais repugnantes na cultura dos konkombas.
Permita-me também compartilhar a história de um amigo congolês que veio estudar no Brasil. Ele ganhou uma bolsa do Governo Brasileiro para cursar Engenharia Civil, uma vez que se destacou nos estudos em seu país. (Logo, não podemos dizer que ele é um ignorante acadêmico.) Chegando aqui, ele ouviu pela primeira vez a respeito da teoria da evolução. Perguntou aos seus colegas sobre o assunto, e esses lhe explicaram que se trata da teoria científica a qual defende que o homem evoluiu dos primatas. Sua resposta instantânea foi: “Só se VOCÊS vieram do macaco! Os meus pais são humanos!”. Seja lá quais forem os padrões culturais do Congo, o fato de as escolas não incluírem no currículo a teoria da evolução nos deixa a certeza de que ela em nada contribuiria para a construção dos valores de vida que norteiam a sociedade daquele país. 
Um exemplo extremo de como as crenças sobre a origem do homem moldam os padrões éticos de um povo pode ser visto na Alemanha nazista. O autor de From Darwin to Hittler, Dr. Richard Weikart, é muito seguro ao dizer que “Hittler pensava estar beneficiando a humanidade ao fazer avançar a evolução e ajudando a criar uma humanidade melhor”. E, assim, ele matava as pessoas “biologicamente inferiores”, tivessem elas defeitos físicos ou doenças mentais. O autor também afirma que o evolucionismo é a base da mentalidade que defende o aborto e a eutanásia. 
Importante destacarmos que toda a crença a respeito do início da vida está inserida na cosmovisão (visão de mundo) de um povo, formando com ela um todo do qual não pode se separar. O naturalismo humanista é a cosmovisão que está por de trás da teoria da evolução.
Quando falamos sobre evolucionismo, faz-se imprenscindível abordamos o naturalismo. Darwin, que rompeu com a fé de forma definitiva quando da morte de uma de suas filhas, era um filósofo naturalista. Na concepção do naturalismo, a realidade só pode ser explicada com embasamento material, ou aquilo que pode ser testado em laboratório – a matéria é tudo que existe e sempre existiu. A primeira célula viva é resultado de uma combinação química que evoluiu até chegar ao homem, que, por sua vez, simplesmente faz parte da história natural. Se existe um deus, ele se limita aos padrões deístas, que teria dado a configuração inicial ao universo e agora assiste de longe os acontecimentos. O resultado dessa visão de mundo naturalista é uma sociedade cética no que diz respeito ao transcendente ou sobrenatural, na qual as pessoas são extremamente focadas no aqui e agora. Afinal, não há nada depois da matéria, e não há Deus para o qual prestar contas. 
O humanismo é a outra base da cosmovisão que impulsiona a teoria da evolução. No humanismo, a humanidade está no centro. Tira-se Deus do trono do Universo e coloca-se o homem em seu lugar. No evolucionismo, o ser humano é o “animal” mais evoluído, e portanto, ele torna-se deus, digno de glória por sua conquista heroica de adaptação e de sobrevivência, e por ter alcançado, pelo esforço de milhões de anos da sua raça, o status de vida mais  complexa e inteligente do planeta. Ademais, as limitações humanas e os problemas desse mundo não são resultado do pecado, mas apenas de um ciclo de evolução que ainda não alcançou o padrão ideal. O sacrifício de Cristo no calvário não é necessário para redimir o homem de seus erros. O processo de evolução aperfeiçoará o ser humano e trará redenção de seus equívocos do passado.

De uma forma mais mística, o evolucionismo também apresenta muitas semelhanças com as crenças totemistas. Totemismo é um conjunto de idéias e práticas que tem como base a existência de um parentesco místico entre seres humanos e a natureza, como animais e plantas - que são os totens. O totem dos evolucionistas é o macaco. “O estudo do totemismo na antropologia cultural se dá a partir de uma percepção sócio-filosófica de clara interação entre o homem e natureza. Tal ligação é sentida e se passa no inconsciente do grupo”, diz  Ronaldo Lidório, que também afirma:

"Apesar do totemismo ser popularmente apresentado desta forma, a partir de uma união mística entre homem e natureza, seu conceito é bem mais amplo e creio que se dá a partir da cosmovisão de um grupo em relação à vida".  **

Depois desse longo (porém necessário) embasamento teórico, vamos finalmente falar sobre o título desse post: “o mito americano sobre a origem da vida”. A cultura americana é bem conhecida pela sua competitividade, valorização do esforço pessoal e a exaltação do mérito próprio. Se olharmos para esses princípios de vida, torna-se compreensível a veneração  dos americanos à crença de que o homem evoluiu do macaco, pois esse mito agrega os aspectos acima citados e cultivados por eles: aperfeiçoamento por esforço próprio em meio a um ambiente competitivo, onde chega-se ao topo por méritos pessoais. Não é à toa que a América pós-cristã apresente grande identificação com o evolucionismo e tenha vindo a conceber essa teoria como a estória mais plausível para a origem do homem. ***
Passamos a analisar outros aspectos sobressalentes da cultura norte-americana (positivos ou negativos), e traçar paralelos sobre como o mito da evolução influencia e embasa a mentalidade daquela sociedade, tornando seus ideais dignos de serem perseguidos, ou no mínimo, aceitáveis:

- Pragmatismo: O evolucionismo defende que as espécies sobrevivem e se desenvolvem por critérios puramente funcionais. O pragmatismo americano é conhecido no mundo todo por dar preferência a tudo que funciona de forma mais eficaz.
- Competitividade: Ser chamado de loser é uma grande ofensa para o americano. Uma vez que a vida na terra se explica pela sobrevivência do mais apto, não resta outra alternativa, exceto se tornar o melhor em tudo. Não se trata apenas de fazer bem feito, ser melhor é uma questão de sobrevivência. 
- Individualismo: Se a seleção natural se dá pela sobrevivência do mais apto, é melhor cada um cuidar de si da melhor maneira possível.
- Hedonismo: Como qualquer outro mito sobre a origem da vida, o evolucionismo tem impacto direto na ética e nos valores do povo que o toma como verdade. Ao adotarem a evolução como explicação para origem do homem, esvaziam-se os argumentos morais. Por que? Porque se o homem não foi diretamente criado com uma direção e propósitos, vale-se tirar dessa vida o máximo de prazer e alegria que ela pode proporcionar. Nada há de se dizer contra a superficialidade da busca incessante pelo prazer que é vista na cultura americana. Consumismo e materialismo, promiscuidade sexual, uso de drogas alucinógenas, wild parties, e outros hábitos e costumes bastante presentes naquela sociedade tornam-se aceitáveis e perdem seu aspecto pecaminoso, pois a ideia de pecado só faz sentido se cremos em um Deus que criou o homem com propósitos bem definidos.
- Sonho Americano: Uma vez que somos resultado da evolução da matéria, e não se pode conceber nada além do que é visível aos olhos, o ideal de se alcançar perfeição nessa vida tornou-se uma obsessão. O sonho americano nada mais é do que isso, a possibilidade de alcançar uma vida perfeita financeira e social neste mundo – somente neste mundo. Ser bem sucedido e reconhecido torna-se o fim principal.

Ainda que o evolucionismo seja uma teoria aceita nos meios científicos do mundo todo e tenha se popularizado pelo nome de um cientista britânico, tomo a liberdade de chamá-la de “o mito americano sobre a origem da vida”, pois nenhum outro povo se identifica tanto com as implicações éticas, morais e culturais dessa crença. De fato, é impressionante  como seus desdobramentos se encaixam perfeitamente nos ideiais e na cosmovisão daquela nação.  Assim, utilizando-se da academia científica, das universidades, da literatura e dos sets de filmagem de Hollywood, os americanos tornaram-se os maiores defensores e propagadores das ideias de Darwin.
Mais um pouco de tempo, e o evolucionismo será lembrado apenas como o mito que ganhou status de ciência em uma época que prevalecia no mundo os ideais de vida do império norte-americano, de um povo que sonhava em alcançar a terra da liberdade, "the home of the brave".
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*  Ronaldo Lidório é antropólogo, sociólogo, linguista, pastor e missionário Presbiteriano, autor do livro Antropologia Missionária -  obra que é fonte dos conceitos e das ideias aqui apresentadas de ligação entre as crenças sobre a origem da vida e os valores culturais de um povo. Como minha intenção não é produzir um artigo científico, vou me limitar somente a citar essa fonte geral. Recomendo a leitura da obra.
** Vale a pena também ler o artigo de Ronaldo Lidório no link abaixo para entender melhor as incríveis semelhanças entre totemismo e a teoria da evolução. Apenas subsitua magia por ciência e as figuras religiosas, tal como os xamãs , por cientistas. http://www.ronaldo.lidorio.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=134&Itemid=31
*** Podemos dizer que a única grande barreira que a crença no evolucionimo ainda encontra nos EUA  é a resistência dos cristãos conservadores, identificados como aqueles grupos cristãos que defendem a inerrância e suficiência das Escrituras e que buscam guiar suas vidas pelos padrões éticos-morais ensinados na Bíblia.




O Monte da Salvação


Olho para o monte
De onde me virá socorro?
Do Monte Sião chegaria
O reinado do Messias

De longe enxergo a cruz
Onde o Criador dos céus, terra e mar se entregou para reinar
Olho para o monte
E do Monte da Caveira, salvação eu passo a contemplar



* Na foto, o Gólgota: "E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota." João 19:17