A Tragédia de Santa Maria, a Chacina dos Galileus e a Torre de Siloé


A tragédia de Santa Maria, que até o início da noite deste domingo contabilizava 233 mortos, chocou o estado do Rio Grande do Sul, o país e o mundo. A notícia correu por jornais estrangeiros. Pessoas importantes do Brasil inteiro publicaram suas mensagens de conforto aos amigos e familiares das vítimas. Até artistas internacionais, como Lady Gaga, manifestaram sua solidariedade. 
Em ocorrências como esta, logo começa a busca pelos culpados, e após a urgência do socorro imediato das vítimas, é feita a apuração dos fatos para determinar os responsáveis. Em meio a tantas dúvidas e incertezas, é comum seguir-se também um julgamento moral e espiritual sobre as próprias vítimas.
O tema “culpa e calamidade” envolve uma presunção de que uma grande tragédia deve de alguma maneira significar uma grande culpa, assumindo que uma vítima tenha feito algo terrível para Deus permitir que algo ruim viesse acontecer com ela. 
Jesus foi confrontado com esse tipo de questionamento. Em Lucas 13, algumas pessoas lhe contaram  sobre o que Pilatos teria feito a alguns galileus, quando os matou e misturou o próprio sangue das vítimas com o dos sacrifícios que eles ofereciam.  Uma analogia contemporânea seria um culto interrompido por vândalos que cortassem a garganta dos adoradores e derramassem o sangue na taça da comunhão. Sobre a notícia que veio da Galiléia, Jesus falou:  "Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão”. 
O Senhor ainda invoca outro acontecimento trágico de sua época, que havia ocorrido no sul de Jerusalém - a queda acidental da torre de Siloé*, que matou mais de uma dezena de pessoas: “Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém?”. Cristo, então, repete a mesma advertência: “Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão".
Jesus, conhecendo a mente daqueles que lhe trouxeram o relato acerca dos galileus mortos durante o sacrifício, responde como se a questão fosse relacionada ao estado pecaminoso das vítimas. Em uma virada inteligente, ele desvia o foco diretamente para seus interrogadores, deixando claro que a questão mais importante e urgente não era uma explicação para os motivos pelos quais Deus permitira que coisas horríveis acontecessem a pessoas inocentes. Ao invés disso, Jesus queria que eles olhassem para dentro de suas próprias almas. 
De igual modo, o motivo pelo qual Deus permitiu que tal coisa acontecesse em Santa Maria não pertence a nós. Também não é mais de nossa conta o destino dos jovens que lá faleceram. E não cabe a nós, Cristãos, querer condená-los ao fim que lhes sobreveio porque estavam se divertindo  em uma casa noturna. 
O alerta que Jesus nos faz, em meio às introspectivas de tal tragédia, é este: “Os jovens de Santa Maria não eram mais pecadores que nenhum de nós. Mas se não nos arrependermos, também pereceremos”. 
A Bíblia nos diz que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Paulo afirmou sua condição chamando-se a si próprio de o mais miserável dos pecadores. Todos nós pecamos, e nenhum entre nós é menos pecador que os jovens vitimados no interior gaúcho.
Na passagem de Lucas 13, Jesus não está de modo algum dizendo que a falta de arrependimento levaria os seus ouvintes a morrer em uma chacina, ou na queda de uma edificação. E não significa que os ímpios morrerão em um incêndio. O Senhor está fazendo um alerta à realidade do inferno e da segunda morte - a separação eterna de Deus. Ninguém se engane, o inferno é real -  Jesus muitas vezes falou sobre ele. É o destino de todos os que não ouvem o chamado de arrependimento: ali haverá choro e ranger de dentes, um lago de fogo e enxofre onde os vermes comem a carne que não se consome. 
A tragédia de Santa Maria é um alerta para a necessidade urgente da proclamação do Evangelho, a fim de livrar almas do inferno, e de trazer sentido à vida de milhões de jovens que procuram preencher o seu vazio na alegria superficial do entretenimento contínuo. Vazio este que só pode ser preenchido pela glória de Deus e pela alegria de conhecer o seu Criador. É também um chamado para analisarmos a necessidade de arrependimento diário em nossas vidas, uma mudança de mente que faça o nosso caráter mais parecido com o de Jesus. 

Que o Senhor Deus console aos amigos e familiares das vítimas do incêndio da Boate Kiss. Seja a faísca que iniciou o incêndio a mesma que virá a acender um grande avivamento espiritual naquela cidade, trazendo a cada pessoa a revelação da pessoa de Cristo e consequente vida de arrependimento diante de Deus. 

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* http://en.wikipedia.org/wiki/Tower_of_Siloam